quinta-feira, 22 de março de 2007

Minutos= uma semana

Olá.
Depois de tantos dias... estou eu aqui de volta. Tanta coisa aconteceu essa semana. Essa exata uma semana que não apareço por aqui. Resumidamente:

-meu avô foi internado na CTI com enfizema pulmonar, cancer de pulmão e pneumonia. está em coma induzido, respirando com ajuda de aparelhos e diabético. literalmente, morrendo afogado.

-minha avó está aqui em casa, e também não está nada bem. a situação está realmente séria. algo dentro de mim (algo que não quero ouvir) me diz que não ve-lo mais. tento ignorar esse lado categoricamente.

-com tudo isso acontecendo, desisti de ir ao show do placebo, obviamente. minha cabeça está realmente confusa. não posso ve-lo, pois não tenho "afastamento" suficiente para entrar numa CTI e ver o meu avô entubado e tendo suas funções vitais feitas por aparelhos. Confesso que realmente não sei como reagiria a isso. Mas pensar que talvez a última imagem que terei dele é a de nós lá na casa da vovó, ele saindo com o mariano pra ir pro hospital, as mãos e lábios roxos e sem conseguir controlar as pernas... dói tanto. não tenho a menor dúvida de que isso de alguma forma me faz querer mais e mais ve-lo. o que também me faz toda noite sonhar com a época em que morávamos em maria da graça e iamos pra piscina antes do colégio e brincávamos juntos. e agora, não tenho mais afastamento para ve-lo. claro que não tenho! ele é meu avô, porra! como posso ter afastamento do meu próprio avô?!

-minha dinda está se mudando temporariamente para o Rio, para ficar mais perto de todos. estou ficando cansada de toda essa tempestade de gente entrando e saindo de casa, do telefone que não pára. sempre a mesma coisa:

-Oi, aqui é a tia tal, como está seu avõ.
-Oi, o quadro dele é estável.
-Poxa, vc tem que ser forte e dar muita força pra sua avó.
-Ok, obrigada por ligar.

Ligam de 7 a 10 vezes por dia. Acordo as 5 da manhã, e mal saio do banho eles já estão ligando. saio pro colégio as 6h. chego em casa às 14h. pilhas de trabalho. dever de casa, trabalho para nota, teste,... tenho ido dormir entre 00h e 1h da manhã. durmo umas 4h por noite pra no dia seguinte começar tudo de novo. no colégio ninguém parece perceber. mas já passou o tempo em que eu queria que perguntassem como eu estou. agora se não me ignorarem já é o suficiente. são burros demais para dizer "como vc está?" ainda mais para perceber que eu estou cansada, com sono e triste. Impossível.

Qual será o limite que uma pessoa consegue alcançar lutando por algo que ela deseja? Até que ponto uma pessoa pode lutar por um ideal? Qual será o limite humano?
Meu avô fuma a mais de 50 anos. Sempre soube o que o cigarro causava. Mas ele fez uma escolha. Escolheu continuar fumando e vivendo a vida dele. Da forma que ele escolheu. Até que um dia, ele não consegue respirar e é induzido a ficar em coma. ou como tenho dito/pensado ultimamente, dormindo em um sono controlado e sem sonhos. Não pode acordar. Não pode sonhar. Apenas dormir. Mas a vida fora daquele hospital continua. Ele fez a escolha, mas nós não. Minha avó não escolheu um marido em coma. meu dindo não escolheu um pai sem sonhos. minha mãe não escolheu cuidar de um pai, a vida inteira ausente. e eu, bem eu não escolhi a vida, nem a minha nem a do meu avÕ. mas escolhi me envolver emocionalmente. poderia simplesmente continuar a viver minha vida. ok, talvez não seja tão simples assim. mas de certa forma, escolhi me envolver com meu avô, como neta, como pessoa e como uma pequena criança que encontra conforto no colo do "pai". E chega um dia que esse "pai" não respira sozinho e de repente ele está dormindo um sono sem sonhos. É tão cruel. Cruel com ele, cruel com minha avó, com meu dindo, cruel com minha mãe, minha dinda e todos que ligam para cá. É a crueldade sem um iniciante. Não foi meu avô que começou isso. Nem mesmo a droga do cigarro. Muito menos o dono da industria de cigarros. Então quem foi? Eu? Vc? Talvez. Mas talvez não é o suficiente quando a pessoa que sempre se viu sorrindo e falando o quanto vc era pequenina está deitada numa cama, dormindo um sono sem sonhos.

[só pq ele ama demais essa musica]

Ainda é cedo amor
Mal começastes a conhecer a vida
Já anuncias a hora de partida
Sem saber mesmo o rumo que irás tomar
Preste atenção querida
Embora eu saiba que estás resolvida
em cada esquina cai um pouco tua vida
Em pouco tempo não serás mais o que és
Ouça-me bem amor
Preste atenção o mundo é um moinho
Vai triturar teus sonhos tão mesquinhos
Vai reduzir as ilusões à pó
Preste atenção querida
De cada amor tu herdarás só o cinismo
Quando notares estás à beira do abismo
Abismo que cavaste com os teus pés

[by Cartola - O Mundo é um Moinho]

4 comentários:

Anônimo disse...

Situação esquisita de ser lida e comentada.
É difícil mesmo não pensar no pior.
Quando meu avô morreu, ele estava a uns 600km de distância. Ele e minha vó foram muito presentes na minha infância. Tenho muitas memórias. Bons tempos. Mas, depois, eles se mudaram para uma outra cidade. Estou falando dos pais do meu pai. Mas como eles eram pais do meu pai, e meu pai não vivia na casa “da minha mãe”, e, ademais, era mau (minha mãe não falava mal do meu pai: ela falava que meu pai era o mau, com todas as letras e aspas), os pais dele deviam ser maus também. Daí que eu gostava deles enquanto estava com eles, mas não podia gostar deles quando eu estava com a minha mãe. Eu fui ficando cada vez menos com eles. Minha vó morreu e eu teoricamente não senti nada, e nem chorei. É inacreditável. Pra compensar, tive vitiligo. Meu avô morreu uns anos depois. Outro dia morreu o avô de um amigo meu. Ele me contou que estava muito triste. Eu pensei: mas o avô desse cara está mudo e pirado há anos, por que ele está tão triste. Eu me peguei ESTRANHANDO QUE O CARA ESTIVESSE TRISTE PORQUE O AVÔ DELE MORREU! Loucura, né? O velho Freud chamava de “defesa”. O que você não agüenta, você apaga.
Quer saber pra que existe análise?
Pra gente desaprender a forma sinistra como aprendeu a não-sentir as coisas, pra então conseguir sentir as coisas. Mas pra que re-aprender a sentir tristeza?
É que quem tem medo de ficar triste tem medo de gostar dos outros.

Anônimo disse...

Você acha que seus amigos são burros por que eles não percebem que você está triste, é isso?
Cara, isso me lembrou uma parada que você disse no outro dia, sobre você não estar nem aí para o mundo e não querer dizer nada pra ninguém, e que isso é problema seu. Cara, você quer que TODO MUNDO AO SEU REDOR SEJA ADVINHO! Você leu Harry Potter demais, garota. Ninguém vai advinhar como você se sente. Você tem que contar. Qual é o problema de chegar assim pra alguém e dizer: "Fulano, sinistro, precisa rolar um lero, porque tô na deprê"?

Bem, é verdade que tem gente que advinha como a gente se sente... Mas isso aí é uma sorte sinistra. E, em todo caso, será, no máximo, uma pessoa de cada vez. E a gente, às vezes, precisa de mais de uma pessoa de cada vez...

Anônimo disse...

Eu não preciso de mais de uma pessoa de cada vez.
Eu não preciso nem de uma pessoa de cada vez.
Eu não preciso nem de uma vez.

Sarah A. disse...

menina.....menina....
o Pedro tem razão.
e eu soh consigo pensar em uma coisa pra te dizer...
antes de reclamar ou questionar as coisa:compreenda-as em todos os sentidos possíveis,até os mais absurdos,....e aceite-as,por que o único jeito de mudar o q está a seu redor é mudar sua maneira de pensar e eventualmente sua maneira de agir tbm.
bjus,eu te gosto muito moça,não se esqueça nunca de respirar hein!!